quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A origem ágrafa




Desterrar a origem ágrafa
A ecoar dentro do berço
De teu nascimento, como em renúncia
Curva-te a rasgarmos
Fluída cada sílaba do mar
Invadindo as formas finas
De caligrafias.

Depois, navegamos
Nesses feixes onde o tempo
Divide e corta
A tarde daqui a entrada
Da primitiva casa

As casas, dentro delas,
Um corpo que ainda fala.
O silêncio das sereias
Seria anterior ao traço da paisagem
Interna? À ausência de som,
As casas, dentro delas,
Um corpo que ainda fala:
Cada sílaba invadida de água
Cada passo submerso sem direção

Ainda que fragmentária
Desfaz-se o som com que ocuparia
Meu coração. Sons dos passados,
Nossos e ao redor.
Mas à entrada da primitiva casa
Cada passo, cada pássaro,
Derrama a ampulheta ao tempo:
Chega a hora de nos tornarmos eternos
Como se fosse estranho envelhecermos

Enquanto estou só, as casas possuem
Um exílio anterior.
Enquanto da janela
Acompanho-me de um quadro antigo
Desviado do alvo do tempo
No fundo há uma lágrima, mas se
Aproximas a vê-la dentro, é a criança,
A infância do menino que segue
Caminhando a história para trás.
Caminho de costas quando
Os desenhos contornam minhas bordas.

Os pássaros regressam. Anoitece,
Sobre os lírios de um céu
Apaga o sol outra estação
Nas primaveras noturnas das florestas
As plantas de outra sexualidade
Adormecem qualquer estação de origem
E em tempo (invisíveis)
Suas raízes crescem aos céus. 

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