sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Orelha de livro











Passos ao redor do teu canto

Nesse livro, o poema cria uma dimensão de matéria e memória. De forma não linear, por meio de voos, mergulhos e aparições, refaz uma superfície antiga de uma paisagem primária, da procura por um instante poético original, onde ecoam rumores dos passos ao avesso, como se pousassem ao encontro de tudo ao que é nômade e decompõe.

Ao longo dos poemas, como passos primeiramente mais amplos, pela veia submersa da memória, esses curvilíneos fazem voltas na palavra para abrirem a cena e torná-la mais rara, condensada. Não se fala por meio de um ser poético, mas da conjunção com o outro, com as imagens da vida: “do corpo que se move no duplo/ sendo-o na senda insuspeita/ dos objetos que lavram palavra vida/ à concessão das pedras/ das grutas feitas apenas/ ao derramamento”. Nesse percurso, a imagem condensa uma semântica que perpassa como uma áurea do sentimento de continuidade, mesmo quando pousa em outros territórios, em outras terras, num fluxo aquático e sanguíneo, respira ao abrir novas camadas de realidade. Até que as águas modulem a voz ao simbólico, como se todo mar desaguasse na garganta e esse elo do real desfizesse a corda da matéria: “Curva-se a rasgarmos fluída/ a memória do mar, cada sílaba/ de água invadida das formas/ finas de caligrafia”. E a voz modula-se pelas letras, são as caligrafias nos lembrando, por fim, que é a linguagem que nos faz humanos e caminharemos num “tempo imóvel/ suspenso das coisas que passam/ das criaturas que passam/ na verdade que possa expressar/ que a verdade do ser é ter-sido”.  

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